INÊS PEIXOTO


Atriz do Grupo Galpão
"A minha paixão pelo teatro vem desde a infância. Sempre tive mania de representar histórias. Isso veio se agravando na minha adolescência, quando comecei a transformar todos os meus trabalhos de escola em uma representação. Em 1979, passei pelo TU (Teatro Universitário), onde estudei por 6 meses. Depois, em 1981, fiz a escola da Fundação Clóvis Salgado, onde comecei a ter contato com o teatro profissional feito em Belo Horizonte.

 

Fiz o primeiro ano e, no segundo, fiz o estágio, em que a gente ia para a periferia. A Fundação jogava a gente na vida assim. Não tinha uma montagem para ficar fixa lá. Eram espetáculos infantis que eram aproveitados em um projeto chamado Arte Cênica na Escola. Na época, o Márcio Machado era o diretor artístico da Fundação Clóvis Salgado e produzia espetáculos com o Alísson Vaz. Comecei a trabalhar com eles e tive a felicidade de conviver com pessoas muito queridas, com as quais eles trabalhavam. Não era um grupo, pois todos eram contratados, mas sempre trabalhavam com as mesmas pessoas. Então, a gente tinha uma vivência, em várias montagens, com os mesmos atores. Depois, produzi com o Amauri Reis "Casablanca", que era um trabalho que queria fazer. Aí, coincidiu com a época em que eu estava entrando para o "Veludo Cotelê", uma banda de rock brega, que nasceu do espetáculo "No Cais do Corpo", do Ricardo Batista (ator e diretor). Isso foi em 1987 e era uma turma super bacana. A banda começou a viajar pelo Brasil inteiro e então fiquei uns três a quatro anos afastada do teatro, pois não podia assumir uma temporada de espetáculo, em função dos meus compromissos com o "Veludo Cotelê". Fiquei assim até 1990. Em 1991, estava com o "Veludo…" em São Paulo e fui assistir a um espetáculo do Gabriel Vilella, chamado "Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu", que marcou a minha vida. Percebi que aquele era o tipo de trabalho que gostaria de fazer. Era um deslumbre, tanto estético quanto em relação à consistência das personagens e o que o espetáculo dizia para a platéia. Tocava muito. Eu fazia um trabalho bacana, mas era musical. Eu já estava em crise. Havia divergências dentro da Banda sobre que linha seguir, se mais teatral ou musical. Fiz uma oficina com o Gabriel Vilella, lá em São Paulo, que me fez sentir que tinha um teatro que queria fazer e não sabia como. Fiquei desesperada, querendo buscar algo mais, quando, em 1992, o Grupo Galpão me chamou para participar de uma série de workshops. Eles estavam pesquisando o que montar e chamaram várias atrizes. Achei super legal ficar nesse espaço, trabalhando o dia inteiro, em cima de cinco textos e vendo a organização do Grupo. Por uma feliz coincidência, me chamaram para entrar no espetáculo "Romeu e Julieta", com a direção do Gabriel Vilella. Não pensei duas vezes. GRUPO GALPÃO - Quando entrei para o Grupo, eu já tinha 10 anos como atriz e o Galpão 10 anos de existência. Para o "Romeu e Julieta", o Galpão não tinha grana e iria montar com a cara e a coragem. A gente não ia ter salário de ensaio nem nada. Ia ser uma aventura e quis me atirar, pelo desejo de experimentar novos processos de trabalho e fazer parte de um grupo de pessoas que viviam integralmente do teatro. Além disso, era um Shakespeare e ia ser na rua. Tudo era muito instigante. Depois de "Romeu e Julieta", convidaram-me para fazer o outro espetáculo e depois os outros e, como é uma estrutura de grupo, em que todo mundo é convidado a participar, outras responsabilidades vieram, além da atuação e criação. É a sua contribuição no todo, tanto artisticamente quanto administrativamente. Fui realmente me identificando com os processos muito cuidadosos e com a forma de trabalhar e encarar o teatro como um desafio. Fui ficando, estou até hoje e fazem 13 anos que estou no Grupo. Artisticamente, a gente trabalha com a linha do ator ativo, com workshops. Dentro de uma montagem, a gente tem a oportunidade de estar interferindo bastante no processo de criação. Nunca trabalhamos com uma pessoa que chegue e imponha um plano de trabalho. Tudo parte de uma idéia, de uma direção ou de um texto, mas o caminhar é muito importante, por essa possibilidade de a gente estar contribuindo muito. Na administração, cada um tem sua função. Atualmente, fico com essa coisa de responder cartas, cuidar da mala-direta, mandar e-mails e trocar com a nossa Assessora de Imprensa (Júnia Alvarenga) como está indo o nosso site. Nos eventos do Grupo, a gente resolve tudo em reuniões e todos dão suas idéias. É sempre uma participação muito ativa. Em relação aos diretores, o Gabriel Vilella dirigiu "Romeu e Julieta" e a "Rua da Amargura", depois o Eduardo Moreira dirigiu "Um Molière Imaginário", o Cacá Carvalho "O Partido", o Chico Pelúcio "Um Trem Chamado Desejo" e agora o Paulo José, com o "Inspetor Geral". Para mim, isso é sensacional. Cada um deles veio com uma contribuição diferente. Assim como a gente deixou em todos eles alguma coisa como grupo, eles também deixaram algo para o nosso processso criativo. Essa diversidade é muito interessante para o ator, pois ele não pode ficar fechado somente em um processo, enquanto existem tantas outras formas de trabalhar. Sinto muita felicidade de estar caminhando com o Galpão. Apesar de ter que me dedicar muito ao teatro, sou uma pessoa muito caseira e gosto demais de ficar com meus filhos e com o Eduardo (Eduardo Moreira), meu marido. A grande inspiração que tenho no teatro é observando a minha própria vida, com essas pessoas que eu amo. O Eduardo, Thiago, João e Bárbara são a minha grande motivação.

TEATRO - Fazendo uma análise rápida, quando comecei em teatro, havia uma busca muito grande dos espetáculos de grande porte no Brasil por quebrar o pacto com o texto. Era uma preocupação com a inovação estética. A revolução da estética teatral, em que a mão do diretor era poderosa. Ele tinha uma característica marcante e os atores se encaixavam nesse jogo. Havia belíssimos espetáculos nessa tendência. Depois, veio a busca por uma nova dramaturgia, negando os clássicos. A formação de atores da minha geração não passava muito pelos grandes clássicos e tinham a tendência para um teatro mais corporal e sem a palavra. Hoje não sei qual é o caminho que o teatro vai tomar. Sinto, no meu caso, uma necessidade de ler muito os clássicos. Tenho sentido o teatro de uma forma mais simples, com o ator, a palavra e o sentimento. Talvez o teatro esteja se achando.

MERCADO - Em relação à situação dos Grupos e das Companhias autônomas, acho que, hoje em dia, existe uma grande crise que impede a circulação. Acho que o grande problema do teatro brasileiro, e não sei se no mundo inteiro, é a circulação, porque tudo é muito caro e os impedimentos são muitos. É uma burocracia, são taxas atrás de taxas e permutas não existem mais. Quando você chega em uma outra cidade, parece que quanto mais problemas as pessoas tiverem para colocar elas vão colocar. Se podem complicar, porque é que elas vão facilitar? Não é assim? Existe uma grande vantagem do Galpão, porque a gente participa muito de festivais e tem oportunidade de estar vendo o que está acontecendo em regiões diferentes do Brasil. Se nós não viajássemos tanto, não saberíamos o que está acontecendo, por exemplo, no Rio Grande do Norte. Como é que um grupo de lá vai poder parar aqui em BH? Não tem jeito. Então, dá vontade da gente saber mais sobre o teatro feito no nosso próprio País.

PRÊMIO - A gente não pode fazer dos prêmios uma meta. Não pode criar um trabalho para ser premiado. Mas os prêmios são importantes. Eles são a celebração do nosso trabalho. Uma noite como aquela (Prêmio Sesc/Sated Para as Artes Cênicas 2004, em que Inês Peixoto foi ganhadora do prêmio Melhor Atriz Coadjuvante, por seu trabalho em "O Inspetor Geral") é uma celebração do teatro que é feito em Minas. Assim como nós belo-horizontinos nos sentimos, às vezes, excluídos das grandes premiações nacionais, sinto que o interior de Minas também deve ficar morrendo de vontade de concorrer em um prêmio desses. É o prêmio do teatro mineiro. Então, a gente tem que valorizar. É uma bonita luta do Sated e do Sinparc de continuarem mantendo esse tipo de celebração.

MISSÃO DO ATOR -Acho bastante particular. Cada um deve sentir na sua profissão a sua própria missão. A minha como atriz é roubar o espectador da vida dele e levá-lo para outras vidas. Se com o meu trabalho eu conseguir segurar uma pessoa que está passando na rua e fazê-la rir, roubá-la quarenta minutos da realidade ou duas horas dentro do teatro, levando-a para outro mundo e conseguindo ocupar-lhe o pensamento, a minha missão estará sendo cumprida.

RECADO - Para todas as pessoas: amai-vos uns aos outros.

PALCO BH - Acho que os guias são super importantes para quem mora em uma cidade. Dão uma visão panorâmica de tudo o que está acontecendo. E é importante também para quem chega em uma cidade. A gente não pode pensar só na gente. É uma forma de estarmos colocando Belo Horizonte em um circuito mais aberto. Quando chego em outras cidades, adoro quando têm guias culturais no hotel. E para nós artistas é um canal de divulgação do nosso trabalho. O Guia está aí bem à mão de todo mundo."

Coxia
Entrevista