LUIZ ARTHUR

Ator e Diretor

"Formei-me em jornalismo na PUC Minas em 1991 e no Curso de Formação de Atores do Palácio das Artes em 1993, como ator. Em 89, uma das primeiras coisas que fiz em teatro foi um curso no Rio de Janeiro, com o finado ator e diretor Rubens Corrêa.

 

Uma outra experiência inicial foi com o Toninho da Cruz (ator e diretor do Teatro Izabella Hendrix), fazendo "A Aurora da Minha Vida". Em 91, entrei para o Palácio das Artes e de lá para frente venho trabalhando ininterruptamente, há treze anos. Fazendo uma análise da turma que se formou comigo, todos, sem exceção, estão trabalhando na área e em coisas muito expressivas dentro do mercado mineiro. Ali a gente tinha um grupo coeso, que conseguiu realizar dois espetáculos muito legais e importantes, marcando época na história da escola do Palácio das Artes: "Teledeum", com direção do Wilson Oliveira, e "Bodas de Sangue", com direção da Cida Falabella, todos em 1993. Logo depois, fui convidado pelo diretor Wilson Oliveira para fazer "Mão na Luva", contracenando com a atriz Yara de Novaes. Com ele ganhei meu primeiro prêmio, o de ator revelação de 1994/1995. Em 96, fiz o "Beijo no Asfalto", vencedor do prêmio Estímulo às Artes Cênicas da Fundação Clóvis Salgado e ganhador de mais quatorze prêmios, dentre os quais dois de melhor ator pelo meu trabalho. Em 98, fiz uma novela no SBT chamada "Fascinação". Também participei de três longas: "Amor e Cia.", do Helvécio Ratton, "O Circo das Qualidades Humanas", feito em 99, no núcleo de direção do Jorge Moreno e "Samba Canção", do Rafael Conde. Pude, então, ter uma noção do que é trabalhar nestes outros veículos. Para mim, a televisão é o exercício da rapidez. Não importa muito se está bom ou ruim, mas sim cumprir pauta. É um desafio. No cinema, o legal é que se tem um tempo de preparo, um tempo para que se tenha um domínio, como no teatro. E é película. Rodou, perdeu e joga fora. Então, o ator sabe que não pode errar. É um exercício que se assemelha ao teatro no quesito do cuidado técnico e entendimento do personagem. Faz sentido essa coisa de se fazer um pouco menor para a televisão e cinema do que se faria com gestos mais expansivos para o teatro. Mas não sou muito radical. Existem coisas que tenho visto na televisão, tipicamente teatrais e, exatamente por isso, fazem muito sucesso. O teatro é a minha casa. É onde gosto de estar, por ser o exercício pleno do ator, que está do dedão do pé ao último fio de cabelo. Depois dessas experiências, fiz o monólogo "A morte de DJ em Paris", do Roberto Drumond, com direção de Walmir José, ainda em repertório. Com este espetáculo pude conhecer novas facetas, viajar e participar de festivais, o que para o ator é genial, pois é onde ele troca experiências e vê o que está sendo feito em outras partes do País. No Festival Nacional de Teatro em Vitória, onde ganhei o prêmio de melhor intérprete, tive um encontro com o Marcus Alvisi - diretor que veio convidar-me, mais tarde, para fazer "Hamlet", no papel de Laerte, com o ator Diogo Vilela. Minha primeira direção e produção foi em 97, com o espetáculo "Califórnia Suíte, a Comédia", quando, juntamente com minha esposa, a atriz Cynthia Paulino e o ator Raul Starling, fundamos a "Josef e os Outros Dois Cia. Teatral". Depois produzimos "São Paulo Califórnia", "A Morte de DJ em Paris" e, no ano passado, "O Andar de Cima, Uma Comédia para Amigos do Peito", com texto, direção, produção, iluminação e cenografia de minha autoria, celebrando a mudança de nome do Grupo para "Cia. Teatro Adulto" e nos trazendo muita sorte. Trabalhei também, em 96, no programa de entrevistas "TV Sucesso", da TV Alterosa, e há quatro anos apresento o "Toto Bola". No momento estou ensaiando "Noites Brancas", de Dostoievski, com estréia prevista para este mês. No espetáculo estão Débora Falabella e eu, sob a direção da Yara de Novaes. Estou encantado com o envolvimento de todos no projeto. Estou voltando a trabalhar com a Yara depois de 8 anos, tomando contato agora com a diretora, que até então não conhecia. Já sabia de seu talento, mas estou absolutamente surpreendido com a forma como tem conduzido os ensaios. Gostaria de fazer um elogio especial à Débora, pela forma admirável como ela vem conduzindo sua carreira. Ela poderia ter chamado qualquer ator para fazer este espetáculo, mas escolheu uma diretora e um ator daqui de BH. Escolheu pela competência, pela afinidade artística ou pelo o que ela já tinha visto, mas não apenas por um marketing que o espetáculo poderia dar. Além disso, ela teve um grande reconhecimento na TV e no cinema e não perdeu a essência de saber que o teatro é a grande fonte de alimentação para o trabalho do ator.

TEATRO MINEIRO - Belo Horizonte é hoje um núcleo de produção teatral muito forte. A gente tem a maior campanha de popularização do teatro e temos iniciativas já consolidadas no calendário cultural da cidade, como o Palco BH, o FIT, o FID, o Festival Mundial de Circo e o Festival de Bonecos. Mas as temporadas regulares de teatro ainda são deficientes. Independentemente disso, o profissionalismo das produções cresceu muito. A gente faz parte de uma geração que acompanhou muito bem essa evolução e acho que ela tem um pé nisso. É claro que não é responsabilidade só da nossa geração, mas podemos ver que quem efetivamente está trabalhando e ocupando a maior parte das produções no teatro mineiro é a nossa geração. Vejo surgindo novos atores, novos grupos que vêm com esse mesmo pensamento. Não é que ela renovou, mas revigorou nessa questão, principalmente, a do profissionalismo.

LEIS DE INCENTIVO - Fui beneficiado por uma iniciativa que pode servir de exemplo para outras empresas. Minha peça foi patrocinada pelo Parque Renascer e Bosque da Esperança, através de um patrocínio por marketing direto, sem depender das leis de incentivo. Isso é raríssimo. Com o surgimento das leis, esse tipo de iniciativa praticamente acabou. Aliás, a empresa que me patrocinou deveria até ganhar um prêmio, porque desconheço qual empresa teve essa atitude nos últimos anos. É claro que não há como não louvar as leis. Só acho que elas precisam passar constantemente por uma reavaliação, para que não beneficiem somente os grandes captadores, que são aqueles que realmente têm acesso ao patrocinador e à forma de se captar. Que as comissões sejam cada vez mais criteriosas na avaliação dos projetos, porque vários deles e importantíssimos não foram aprovados. Por exemplo, a Lei Municipal já é um desestímulo por si só. Tenho currículo para mostrar e fui reprovado por duas vezes. O meu projeto era bom. Cada produtor sério, que tem uma carreira consolidada e desiste de entrar em uma lei faz com que ela se enfraqueça. Quem perde é a produção teatral mineira. É uma pena.

RECADO - Sou um cara simples, que gosta e acredita no que faz e quer que as pessoas vejam o que ele faz. Então, vá ver o que eu faço para que a gente se comunique na troca. Porque, afinal de contas, fazer teatro só para mim não tem a menor graça.

PALCO BH - O Palco BH é uma iniciativa importantíssima para o teatro. Tem distribuição gratuita nos pontos mais importantes da cidade e é uma propaganda que dá um retorno de público maravilhoso. Além disso, é feito por pessoas do ramo, que entendem do que fazem e realmente conhecem quem faz teatro em BH. Desconheço outro veículo que dê tanta importância ao artista de teatro na cidade. Desejo vida longa ao projeto. Se, por acaso, o Guia passar por alguma dificuldade, a própria classe tem que se movimentar. A gente não se movimenta por tanta coisa? É uma iniciativa cultural para a cidade e, mesmo que seus realizadores queiram, não pode acabar mais."

Coxia
Entrevista