ALEXANDRE GALVÃO

            Iluminador e Técnico

Eu fazia o curso técnico de eletrônica no antigo colégio da PUC, em Coronel Fabriciano, onde tinha um grupo de teatro e o diretor gostava muito de luz e recursos técnicos, aplicando tudo no espaço em que a gente se apresentava. Então, acabei me direcionando para a área técnica. Quando acabei o curso, tive que me decidir profissionalmente e, entre 1987 e 1988, cheguei a trabalhar com iluminação em uma TV em Ipatinga e com teatro amador, até ter vontade de vir a Belo Horizonte para aprender realmente e ser profissional na área. Em 1991, consegui um estágio de três meses no Palácio das Arte e depois no Grupo Corpo, como ajudante do Eustáquio.

 

Depois, em 1993, fui para o Teatro Marília e lá formamos o Núcleo Técnico de Artes Cênicas, um grupo de técnicos formado por mim, Wladimir Medeiros, Helvécio Izabel, Nilson Moreira e Júlio Meira. Com o tempo, o grupo foi se transformando até cada um tomar o seu rumo e se acabar. O primeiro espetáculo em que participei da criação da luz, junto com o Carlão, foi o "Bodas de Sangue", dos formandos de 93, da escola do Palácio das Artes, turma que deu origem à Trupe Pierrot Lunar. Depois veio "A Prostituta Respeitosa", com o Júlio Mackenzie, que foi uma busca de recriar ambientes de forma naturalista. Em 96, fizemos o nosso grande desafio, que foi "Alice", da Pierrot Lunar. Um espetáculo em que a luz tinha que se desdobrar, pois cada refletor tinha três ou quatro funções, por causa do posicionamento do público que era itinerante. Para mim foi o grande aprendizado, pois uma coisa é iluminar dentro de um teatro, onde se tem todas as condições e outra é ir para um galpão vazio e ter que levantar toda a estrutura, nem sempre com equipamento de luz tradicional, usando dicróica, lâmpada de carro e uma mesa limitada. Outro trabalho importante foi "O Beijo no Asfalto", do Wilson Oliveira, um trabalho legal com uma linguagem diferente. Essa diversidade, trabalhando com diretores e formas de teatro diferentes, foi o que fez o meu aprendizado. Depois disso tudo, em 94, começamos a trabalhar com o Grupo Galpão, com quem estamos até hoje e fizemos "O Moliere Imaginário" - com a luz para rua, "Partido" e "Um Trem Chamado Desejo". Praticamente, desde o início, quase todos os trabalhos que fiz foram juntamente com o Wladimir Medeiros e, ultimamente, também com o Chico Pelúcio, Felipe e Juliano. A proposta é fazer microoficinas internas, estudando coisas novas e encarando a luz, não só como uma coisa autoral, pois a gente é um instrumento de iluminar, desde o projeto até sua realização. A criação de luz é uma grande pesquisa que não tem fim. Todo artista tem uma fase de descoberta, de amadurecimento e outra em que as coisas vão perdendo o valor. Então, tenho a sensação de que, agora, outras descobertas têm que acontecer para misturar com o que já aprendi e estimular a criação. O que importa é o aprendizado e tentar fazer com que a luz seja cada vez mais teatral e menos técnica. Não só permitir a leitura visual do espetáculo, como também poder participar do jogo teatral como um elemento cênico, que se comunique com as outras estruturas cênicas, principalmente com o ator. Acho que a luz tem que atuar mais. Não precisa ser tão atraente, ter tanto efeito, mas ter uma função cênica de atuação mesmo. Coisas bobas, como um foco interagindo com o ator ou com uma fala, me fazem dar muito mais importância a esse tipo de jogo, do que propriamente o visual bonito. Mas existe uma cobrança do mercado em relação a isso e poucas pessoas abrem mão. Ser técnico é montar a luz e ao mesmo tempo servir ao ator. O técnico está naquele meio para atender bem e fazer o que pedirem, seja por conta própria ou em equipe, dividindo as funções, pois não existe um bom técnico sozinho, e sim, uma boa equipe técnica.

RECADO - Queria dizer às equipes técnicas dos teatros de Belo Horizonte para não acreditarem em um crescimento sozinho do técnico, mas apostarem no crescimento em equipe. Com isso, a gente vai ter um bom teatro e dar um staff técnico geral, fazendo um teatro mineiro cada vez melhor. Que as equipes se entrosem e tenham condições de resolver os problemas, que sempre surgem, com qualidade de trabalho.

Camarim
Entrevista